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Frantz Fanon, um psiquiatra e filósofo francês de origem martinicana, escreveu o livro "Pele Negra, Máscaras Brancas", lançado em 1952, que aborda as complicações da identidade racial e da psicologia negra em um contexto de colonialismo e racismo.
Fanon examina como a mentalidade dos colonizados é influenciada pela colonização, levando-os a internalizar preconceitos e estereótipos raciais. Ele aborda a alienação e a busca por reconhecimento em uma sociedade dominada por valores brancos, bem como as dinâmicas psicológicas da opressão racial.
Pele Negra, mascaras brancas vem sendo resgatado no atual debate sobre racismo e necropolitica, em razão do forte conteúdo sobre a inferiorização do negro naquele contexto de colonialismo e as consequências daquelas violações de direito em dias atuais.
Na época da sua publicação, o livro sofreu forte oposição da elite colonialista, que considerava o autor perigoso, pelo fato de ser comunista, negro, inferiorizando o conteúdo dos estudos e reflexões apresentadas, principalmente em Portugal.
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A obra possui dois vértices epistemológicos, um, sendo uma análise histórica e outra, psicológica. O viés histórico analisa as razões e origens dos embates entre o negro e o branco, enfatizando a exploração colonialista da África e o regime escravocrata, em uma perspectiva estrutural que analisa o abuso do poder econômico e militar das potencias europeias no período das grandes navegações, que dessa aproximação entre povos, gerou mecânicos de exploração tanto das riquezas naturais, quanto de mão de obra.
No aspecto psicológico, o autor aborda uma certa neurose, onde o negro cria uma autodepreciação de si mesmo em relação ao branco. Fanon defende que é impossível compreender qualquer relação entre branco e negro na contemporaneidade dos anos 50, sem considerar os efeitos negativos do colonialismo, que estabelecia critérios de hierarquias sociais entre as raças. Nesse contexto, o negro ficava ‘’preso ‘’ em sua noção de inferior como ser humano e o branco, se considerava superior. A comunidade negra no intuito de buscar um senso de pertencimento social, se afastava das suas raízes religiosas, culturais e ancestrais.
Nas palavras de Fanon (2008, p. 34) “Todo povo colonizado – isto é, todo povo no seio do qual nasceu um complexo de inferioridade devido ao sepultamento de sua originalidade cultural – toma posição diante da linguagem da nação civilizadora, isto é, da cultura metropolitana”
A língua pátria das ilhas Martinica é o criolo, mas como houve forte colonização francesa, o domínio do francês nas colônias antilhanas funcionaria como forma de aproximação entre o negro e o mundo dos brancos, o “mundo civilizado.” Ao assimilar os valores culturais da metrópole, o colonizado supostamente estaria escapando do que o colonizador chamou de “selva”. Comunicar-se nas línguas crioulas seria uma das marcas de “selvageria.
” Dessa forma, à medida em que refuta sua negritude, seu mato, mais branco tornar-se-ia.“Falar uma língua é assumir um mundo, uma cultura. O antilhano que quer ser branco o será tanto mais na medida em que tiver assumido o instrumento cultural que é a linguagem” (FANON, 2008, p. 50).
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Arquétipos negros são explorados como uma construção social e psicológica que reflete as dinâmicas de poder e opressão presentes em sociedades marcadas pelo racismo e colonialismo. Fanon analisa como o arquétipo negro é moldado pela visão eurocêntrica dominante, que o coloca em uma posição de inferioridade e estigmatização.
Fanon desafia essa representação, buscando desconstruir estereótipos e resgatar a dignidade e a autenticidade da identidade negra. Ele argumenta que a internalização do arquétipo negro, por parte dos próprios indivíduos negros, gera um conflito psicológico e uma alienação em relação à sua própria essência. Fanon enfatiza a necessidade de rejeitar as imposições coloniais e de reconstruir uma consciência negra positiva e emancipada. Ele busca promover a valorização da herança cultural africana e a resistência contra as estruturas opressivas que perpetuam o arquétipo negro.
Patologia do uso da língua é a definição apresentada pelo autor que significa uso de uma linguagem mais simples, mais básica, pois se parte de uma premissa de que o negro é infantilizado, enquanto o branco é maduro. A linguagem mais adequada para se falar como um negro seria então, uma linguagem voltada ao povão, sem usar uma erudição, sem usar um vocabulário inferior, pautado na suposta hierarquia entre o branco e o negro.
Falar petit-nègre a um preto é afligi-lo, pois ele fica estigmatizado como “aquele-que-fala-petit-nègre”. Entretanto, pode-se argumentar que não há intenção nem desejo de afligi-lo. Concordamos, mas é justamente esta ausência de intenção, esta desenvoltura, esta descontração, esta facilidade em enquadrá-lo, em aprisioná-lo, em primitivizá-lo, que é humilhante (FANON, 2008, p. 45).
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